terça-feira, 29 de outubro de 2013

Como ensinar as crianças a compartilhar os brinquedos !

Lidar com o sentimento de posse dos filhos pequenos deixa muitos pais com os cabelos em pé. Entenda por que isso acontece e confira dicas para suavizar essa fase.

Não é por maldade nem por falta de educação: algumas crianças simplesmente têm mais dificuldade do que as outras para compartilhar seus brinquedos, roupas e até a atenção dos pais. Perceber essa tendência comportamental é simples. Em uma reunião familiar ou em uma festa infantil, por exemplo, tudo vai bem até que se ouve o choro de um pequeno porque o amiguinho não empresta algo durante a brincadeira. A manha também pode vir da criança que não tem intenção de dividir e se sente invadida. Aí está alguém que não gosta que seus pertences sejam de domínio público.


Via de regra, os pais da criança que não quer compartilhar sentem-se constrangidos diante da situação, principalmente por acharem que estão errando na educação do filho. Não deveriam, pois isso está além do controle inicial deles, como explica a psicóloga Mara Pusch, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): “Na primeira infância, a criança acha que tudo é apenas dela, inclusive a mãe e o pai, que as coisas acontecem por causa dela. Então, emprestar não é uma alternativa. Um pouco adiante, quando ela compreende seu espaço e que existem pessoas com quem precisará dividir o mundo, a situação muda e o compartilhar fica mais fácil, embora não deva ser forçado”.
A psicopedagoga Maria Carolina Oliveira, especializada em educação na cidade de Reggio Emilia (Itália) e na Universidade de Harvard (EUA), complementa: “No auge do egocentrismo, por volta dos dois anos de idade, a criança não verbaliza e reage com o corpo. Pode passar pelo amigo e arrancar seu brinquedo, porque, em sua fantasia, o mundo gira ao seu redor, o outro não existe e é seu desejo ter aquilo. Com a linguagem mais desenvolvida, cria argumentos - ‘Não quero emprestar porque não é meu amigo’. Todo esse movimento faz parte do desenvolvimento infantil. Não há nada de ruim, é a construção da personalidade”.
Filho único: Há quem acredite que filhos únicos são, obrigatoriamente, mais egoístas do que crianças que tenham irmãos. “Em tese, a criança que não precisa dividir seus pertences em casa terá mais dificuldade para fazê-lo em um contexto social”, diz Mara. Mas isso não é regra, de acordo com Maria Carolina. “Há filhos únicos cujos pais são solidários, têm o costume de compartilhar. Convivendo com esse modelo, eles assimilam tranquilamente a partilha e percebem mais rapidamente o valor do brincar junto”, exemplifica.
O que fazer quando o filho não compartilha? Um erro comum dos pais é interferir nos momentos de disputa por um brinquedo e tentar convencer a criança de que ela precisa, sim, emprestá-lo. “O adulto tem que respeitar que nem sempre se deve dividir, assim como ele próprio não empresta tudo o que tem aos amigos. É legal compartilhar, mas não é obrigatório”, afirma Mara. Ela defende, ainda, que “o egoísmo, em certa medida, faz bem à saúde emocional e ajuda a formar a identidade da pessoa”. O caminho ideal para lidar com a situação é por meio do diálogo. Em vez de fazer o papel de mediador, ouça o que seu filho tem a dizer sobre a atitude. Pode ser um problema específico com aquele amigo, que nunca divide nada com seu pequeno (e ele se sente injustiçado). Pode ser que ele ache que vá perder o brinquedo. “Algumas crianças pequenas acreditam que, ao emprestarem algo, isso não será mais seu, não terá volta. Cabe aos adultos explicarem o que é o empréstimo”, ensina Maria Carolina.
A partir daí, entram em jogo as negociações. Sugira que seu filho faça uma troca temporária de brinquedos com o outro. Marque o tempo que cada um poderá usar o objeto alheio – e garanta o cumprimento dele. “A intervenção tem que ser imediata, como quase tudo ligado ao universo infantil. Se deixar passar muito tempo, perde o sentido”, aconselha a psicopedagoga.
É importante lembrar que esse comportamento é parte do amadurecimento da criança e não durará para sempre. Ao fim da primeira infância, por volta dos seis anos de idade, é comum o sentimento de posse diminuir consideravelmente. A entrada na escola facilita esse processo, pois lá são trabalhadas situações de conflito, ajudando no desenvolvimento social dos pequenos.
Enquanto essa fase não passa, confira – e coloque em prática – cinco dicas da psicóloga e da psicopedagoga para que seu filho consiga compartilhar com mais facilidade.
1. Leve a criança a feiras de troca de brinquedos e livros
Ao ver outras crianças abrindo mão de brinquedos e livros em troca de artigos inéditos para elas, seu filho se animará a fazer o mesmo. Além disso, não há sensação de perda, uma vez que ele sairá de lá com o mesmo número de itens com que entrou. 
2. Selecione, com a criança, roupas e brinquedos que podem ser doados
Explique que aquele casaco que não serve mais ou o boneco com que não se brinca há quase um ano podem fazer a felicidade de crianças que passam necessidade. Além de facilitar o desapego, o conceito da solidariedade passa a ser compreendido. Mas atenção: nunca faça isso sem a participação do seu filho, pois você poderá escolher objetos aos quais ele tem apreço e ele poderá se sentir “roubado” ao notar a falta de alguns itens entre seus pertences.
3. Evite que seu filho leve brinquedos novos a situações sociais com outras crianças
O encantamento pelo brinquedo recém-ganho e as descobertas que ele ainda proporciona tornam muito mais difícil o compartilhamento com outras crianças. Para evitar um desgaste emocional desnecessário, deixe o objeto em casa enquanto sua fase de exploração estiver em andamento.
4. Faça uma sessão de filmes em casa para seu filho e os amiguinhos
Uma única tela diverte muitas crianças. Escolha um filme que agrade a todas e organize uma sessão em casa. Prepare bastante pipoca e a distribua pelos pacotes ou baldes diante de seu filho, para ele perceber que tudo nesse programa é baseado no compartilhamento.
5. Conte detalhes de situações em que você emprestou ou pegou algo emprestado
Para reforçar que itens emprestados têm volta, conte para seu filho que vai devolver a uma amiga a bolsa que ela lhe emprestou para ir a uma festa, por exemplo. Empreste uma revista a um vizinho perto da criança e combine quando ela será devolvida. Exemplos ensinam muito. 

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